quarta-feira, 4 de julho de 2012

O mercado do Meio-Dia

Ganhámos um novo hábito.

Após quatro meses de muito estrebuchar que as compras de supermercado são muito caras, que a variedade é pouca, que vegetais e fruta custam os olhos da cara e não são nada de especial, de termos descoberto um mercado semanal a dois passos de casa mas depressa concluir que as leguminosas custam o dobro do já caro supermercado, e de estrebuchar mais um bocado, descobrimos o mercado da Gare du Midi.

A Lonely Planet diz que é o maior mercado da Europa (e eu não disputo porque nunca vi nenhum maior - o de Camden não conta porque não é de legumes). Fica mesmo encostado à estação mais importante de Bruxelas, a Gare du Midi, que nos era familiar porque foi a nossa porta de entrada no país e já se tornou portal de idas e vindas para o resto da Europa. 


Serpenteia pelas ruas adjacentes e por debaixo do grande viaduto da estação - frequentemente se sentem e ouvem os comboios a passar por cima - e é enorme. Enorme e muito frequentado.

Da primeira vez que o visitámos, fomos a medo. Eu, apesar do que colegas me tinham dito, ía muito cética. "Legumes e fruta a preços razoáveis e em grande quantidade, aqui em Bruxelas?... Peixe fresco??" Ao sair da estação, como nos deparamos logo com a parte das roupas, calçado e afins, o meu ceticismo saiu reforçado. Mas quando virámos a esquina, caminhámos por debaixo do viaduto e entrámos na zona dos legumes, aí não houve outra reação que não o suspiro de "Finalmente!".

Vale bem a pena aguentar os encontrões, os apertos, o passo em caracol, as fintas aos cotovelos e ombros alheios e a gritaria geral própria de um mercado. Porque eu nunca vi tanta variedade de produtos hortícolas num só espaço. E o peixe fresco também se confirma! Da primeira vez, um polvo foi a única coisa que comprámos. Era a única saudade gastronómica que apertava e, quando o vi, fresquinho em cima da banca de gelo, não hesitei (quis armar em esperta e pedir em francês; não sabendo como se dizia polvo arrisquei um "octopus" porque me parecia perto do latim o suficiente para servir a uma língua latina, mas afinal era "poulpe" - tão parecido com português que logo me envergonhei. Daí que já tenha uma teoria em relação à língua francesa: na dúvida, joga-se a palavra portuguesa que há fortes probabilidades de ser a correta ou muito próxima).

Da segunda vez, já fomos munidos do carrinho de compras para abastecer o frigorífico das verduras para a semana inteira (o mercado do Midi é só ao domingo de manhã. O que complica a transformação da ida esporádica ao mesmo num hábito; são muitos trade-offs: levantar cedo e ir ao mercado ou ficar na caminha; enfrentar a multidão e trazer carrinho cheio de legumes ou contentar com a pouca escolha do Lidl... Difícil, muito difícil). O carrinho veio cheio para casa. Não comprámos mais nada porque o D. olhava incrédulo o meu entusiasmo e interrogava em voz alta como é que tudo aquilo ía caber no nosso mini-frigorífico. 



Resultado: descobri o prazer de cozinhar legumes frescos e até já me aventuro a provar saladas (devagarinho que isto é animal de lenta habituação).

Resultado 2: descobrimos o prazer de substituir bolachas e M&Ms por fruta, e portanto a que trouxemos não durou nem até meados desta semana. Eu defendo que o mini-frigorífico, bem arrumadinho, aguenta com o dobro das verduras que trouxemos...

Conclusão: sim, Bruxelas, de quando em vez, lá me consegue surpreender. E a nossa vida aqui vai-se tornando aos poucos mais inteira.



As fotos são todas cortesia do Google Images porque a lei da sobrevivência e integridade física impede-me de sacar da máquina com toda a calma e pensar sequer em tirar fotos ao que vejo.


S.

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