Estava preparada para chegar a casa, ligar o computador e escrever um post meio-zangado, meio-irónico sobre tudo o que não é o dia internacional da mulher. Mas depois li isto, pousei a minha caneta virtual e pensei "Caraças, nunca vou conseguir escrever coisa tão aproximada à minha perspectiva deste dia como isto!..."
Aqui fica, por isso:
Não para todas, felizmente, mas para muitas mulheres este é o dia em que finalmente conseguem aqueles miminhos extra. Terão andado nos últimos quinze dias a fazer referências subtis a pulseiras, anéis, sapatilhas, relógios e até a fins de semana completos nos paraísos da Terra. É o dia em que confirmam que os seus mais-que-tudo não se esquecem delas, seria imperdoável não as recompensarem como deve ser por fazerem pequenos-almoços soberbos com o que não lhes falta no frigorífico, por manterem limpos e saudáveis os filhos que puderam escolher ter, por terem corrido mais de cinco quilómetros por dia e assim terem abatido as calorias dos bombons e outras iguarias pecaminosas que facilmente adquirem numa lojinha gourmet, por conseguirem aguentar o emprego que conseguiram e (apre, que fantásticas!) ainda assim se manterem bonitas, bem vestidas, com o cabelo arranjado e sempre prontas para uma noite de amor.
Outras há a quem bastaria, ainda que por um dia, não serem apedrejadas por pintarem as unhas. Seria um mimo, um grande mimo, uma recompensa por andarem o resto do ano a tentar sobreviver ao inferno. Não podemos mudar isso, é certo, mas podíamos, ao menos, fazer um esforço por não ofender nem insultar com esta opulência em que nos viciámos e que nos tolda as vistas. Calarmo-nos caladinhas e não adulterarmos o sentido e o princípio da homenagem. O dia da Mulher não existe para masturbação. Existe para dignificar.
S.
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