quarta-feira, 25 de setembro de 2013

A boneca e o carrinho são de todos

Esta imagem foi construída após um estudo que visava analisar as palavras escolhidas para o marketing de brinquedos de rapariga e de rapaz. A diferença na linguagem utilizada é abismal (o tamanho da palavra está relacionado com a frequência com que esta aparece nos brinquedos):




Imagem tirada deste artigo do Princess Free Zone, sobre a forma como a linguagem influencia a nossa perceção da realidade e nos molda.

O Princess Free Zone é um projeto que eu gostava muito de ter criado, apesar de ainda não ter filhos. Foi inventado por uma mãe de uma rapariga que desde cedo recusava os vestidos cor-de-rosa folhados e tinha um fascínio por coisas estereotipicamente de rapaz, como ferramentas de construção e afins. O PFZ luta para que as crianças possam fazer e ser o que realmente gostam sem falsas compartimentalizações rapaz/rapariga. É incrível ver o número de mães e pais que publicam na página do Facebook do PFZ fotos de rapazes e raparigas a desafiarem as lógicas distorcidas dos géneros, como rapazes a embalar uma boneca ou raparigas mascaradas de Batman.

Um dos sucessos mais recentes na área, ainda que atribuído a uma outra campanha, a "Let Toys Be Toys" foi o Toys 'R Us declarar que iria acabar com o marketing sexista de brinquedos para rapariga e brinquedos para rapaz.

Viva a verdadeira liberdade de escolha.




S. 

4 comentários:

  1. Essa coisa dos "brinquedos de menina" ou das "brincadeiras de rapazes" sempre me fez confusão, pois em criança gostava era de jogar futebol, e não de bonecas (e logo era apelidada de "maria-rapaz"). A minha filha andou num infantário (não em Portugal) em que tanto rapazes como raparigas eram incentivados a brincar com bonecas, automóveis, a cozinhar e afins, e vá-se lá a saber porque ambos os sexos brincavam com os mesmos brinquedos e no mesmo tipo de brincadeiras. Ver rapazes a embalar bonecos era tão natural como ver raparigas a brincar com ferramentas.

    Mudança de país, mudança de escola e de mentalidades. A área do "faz de conta" para as meninas e a garagem para os rapazes, sem misturas entre eles. Em pouco tempo o cor de rosa era rei e as histórias de princesas as preferidas.

    Da minha experiência (eu sei que é muito pouco científica), a sociedade (e os pais/escolas) é que impõem essas escolhas às crianças...onde é que já se viu oferecer um carro telecomandado a uma rapariga ou uma boneca a um rapaz. Pelo que vejo à minha volta, os poucos pais que não alinham nos estereotipos ainda são olhados de lado e ouvem comentários pouco abonatórios. Infelizmente as mentalidades demoram muito a mudar, embora haja pequenos passos nesse sentido.

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  2. Ana, partilho inteiramente essa visão. As crianças são extremamente atentas aos sinais que lhes passamos e às expectativas que temos delas. Acho muita graça a mães que comentam o quão as suas filhas pequeninas são tão pirosas porque só gostam é de lacinhos e brilhantes e etc, mas não reparam que sempre as vestiram como se fossem umas bonecas de carne e osso, portanto estavam à espera do quê. Depois também há aqueles casos em que pais juram a pés juntos que fizeram tudo muito neutro mas que a miúda pende à mesma para os cor-de-rosas e as bonecas, portanto deve ser genético. Também não reparam que a criança não vive numa redoma de vidro chamada casa, e que há mais influências para além dos pais que começam a operar. O exemplo que deu dos infantários é mesmo muito interessante e espelha bem isto.

    Uma verdadeira educação neutral em termos de género deve ser muito cansativa porque parece que se tem que estar sempre a lutar contra a maré. Eu tenho uma cabeça cheia de ideias mas espero que quando chegar a minha vez tenha a paciência suficiente para preserverar e a flexibilidade suficiente para acomodar as minhas ideias à pessoa que me calhar em mãos.

    (Obrigada pelo comentário tão interessante)

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  3. não tem a ver com o teu post, mas lembrei-me de te por aqui um debate, em jeito de provocação: federalismo europeu, sim ou não? (eu, que sou europeísta, oiço deliciada a sapiênia do Pacheco pereira, que defende o Não : a partir do minuto 17 deste video:
    http://youtu.be/hnv8IJ-EC0I

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  4. a.i., assim muito resumidamente e sem ter visto ainda o vídeo: federalismo europeu, sim. Na minha opinião, os problemas que a Europa neste momento tem são por integração a menos e não a mais. E eu gosto mesmo muito da ideia de Europa. Sorrio sempre quando as pessoas invocam o nacionalismo como contraponto a uma Europa federalista artificial, que quer destruir a verdadeira identidade nacional dos países soberanos. Com certeza conhecem mal a história do estado-nação. Como este tem pouco mais de dois séculos e em como alguns casos as tão caras nacionalidades do presente foram forjadas a ferro (a centralização francesa, a espanhola, a unificação alemã e italiana. Veja-se ainda o caso do UK, 4 países unidos por uma abstratíssima Britishness e uma fidelidade mais ou menos distraída à Rainha).

    Mas pronto, eu sou suspeita porque vivo fora do meu país e gosto, não sinto fidelidade nenhuma especial nem que deva nada ao país onde nasci a não ser o carinho pela casa onde cresci e pelos lugares que me são familiares, e irrita-me profundamente coisas como ter que preencher duas declarações de impostos diferentes ou ter que estar a preencher uma data de papéis novos de cada vez que mudo de país para entrar dentro do "sistema". Viver numa Europa verdadeira dar-me-ia mesmo muito jeito.

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