sexta-feira, 6 de setembro de 2013

A torre de Babel a desmoronar-se

Já sou oficialmente uma aluna de alemão. 

Mas antes de o ser estava sentada numa carteira de sala de aula, com mais 20 outros pré-alunos de línguas, à espera que nos viessem entregar os testes de aferição das respetivas línguas para nos meterem nas turmas corretas. Olho de soslaio para o papel de inscrição da pessoa ao meu lado. Descortino as palavras "test: portugais" escrevinhadas à pressa no topo da folha. O meu estômago dá uma cambalhota. Já sabia que naquela escola também havia um curso de português, tinha até visto que o primeiro nível já estava completo, mas estas coisas só vendo para crer. Começo a sentir-me a recetora de olhares de soslaio também, lançados a mim e à minha folha com o seu "test: DE". Até que a senhora se me dirige em alemão. Um bocadinho de pânico misturado com um bocadinho de alegria, polvilhado de frustração por ver que dos nove meses de aulas há três anos só me resta a capacidade de compreender a palavra "deutsche" no meio de uma frase que deve ter sido muito simples. Dirijo-me a ela em francês. Dá-se um clique e eu percebo que numa sala de vinte e poucos alunos, ela, alemã, que estava ali para testar o seu português, se sentou ao lado da única portuguesa que estava ali para testar o seu alemão. Coincidência maravilhosa. Não sei qual das duas ficou com o coração mais quente por a outra desconhecida ter o interesse suficiente em se dedicar à sua língua materna, que não é especialmente popular nem tem os glamours de um italiano ou espanhol, ou as exoticidades de um árabe ou mandarim. Começou a falar-me num português enferrujado mas assustadoramente correto, e eu perguntei quanto tempo tinha ela vivido em Portugal, para justificar tal competência. Nunca tinha ido a Portugal (sequer! Como é possível falar tão bem...) mas gostava mesmo muito de lá ir um dia. Tudo isto em português, a minha língua materna. Fiquei triste de não lhe poder retribuir a mesma gentileza. No fim do teste, recebi um "Gut Glück!" e sussurrei um "Boa sorte!" de volta. 

Parece-me um ótimo prenúncio. 




S. 

P.S. O que também me parece um ótimo prenúncio é a quantidade de faíscas que a parte linguística do meu cérebro fez naqueles dois ou três minutos. Ouvi alemão, respondi francês, devolveram-me português, continuei num português self-conscious porque queria muito que ela me continuasse a entender, depois acho que mudei a meio para francês novamente, mas inglês era o que me estava a soar melhor mentalmente já que é território neutro, espécie de acordo subentendido sempre que duas pessoas que não partilham a língua materna nem a língua de acolhimento devem falar. Mas depois lembrei-me que não era preciso porque ela falava português, e depois fiquei triste por não poder falar-lhe em alemão. Prenúncio das mindfucks que me esperam nas aulas de alemão em francês, foi o que isto foi.




4 comentários:

  1. Tambem vou ter aulas de alemao este ano - Sera que vamos ser colegas? (escolhi um instituto de linguas ao pe do Parlamento)

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  2. Oh, o meu e' na Av de la Couronne, o EPFC. Estas no Goethe?

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  3. Nao, no Maria Haps, na rue Arlon, mesmo ao lado da Place Luxembourg. 1x 2h por semana.
    Andei no EPFC quando comecei as aulas de Frances, mas era em Porte de Namur. Espero que gostes das aulas, eu gostei muito, o que me custou foi 2x 3h por semana...!

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  4. Não conhecia o Maria Haps! Pois, acho que ainda não estou bem a ver o que são 3 horas seguidas de aulas a seguir a um dia trabalho, mas espero que valha a pena. Boa sorte para as tuas aulas ;)

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