Em Bruxelas está brevemente para acontecer a Maratona/Meia-Maratona/Mini-Maratona. Isto acontece todos os anos mas só neste me dei conta que as provas eram agora no início de outubro. Sendo uma newbie da corrida, mas cujo empenho e vontade me têm surpreendido até a mim própria*, lá decidi que ia participar na minha primeira corrida. Começar numa que sei que consigo acabar para cruzar pela primeira vez uma meta e consolidar esta estranha motivação. Este ano é a mini, para o ano há-de ser a meia, maderfoquers.
Mas bom, o meu entusiasmo desmedido tem sido assolado por dúvidas que não têm que ver com a participação na corrida em si, mas sim na escolha do percurso. Isto porque Bruxelas teve a brilhante ideia de acrescentar uma prova adicional a estas três provas normais. É exatamente igual à Mini-Maratona, tem exatamente o mesmo percurso, parte 15 minutos depois mas é só para mulheres. Chama-se Ladies' Run.
Ao início demorei a entender a distinção, achei que, ah, então a Mini-Maratona é para os homens e a Ladies' Run é para as mulheres. Mas depois fui consultar a tabela dos resultados do ano passado e na Mini-Maratona tem lá homens e mulheres, embora estas últimas sejam muito poucas.
Sendo que as pessoas são classificadas dentro do seu escalão etário e de sexo, não percebo a necessidade de existir uma "Ladies' Run". Não existe uma Ladies' Marathon nem uma Ladies' Half-Marathon; vai tudo junto e classifica-se por escalão. Para quê uma Ladies' Run dos 4 km?
Entendo que a principal razão deve ter sido a motivação; no geral, os homens são mais rápidos do que as mulheres e portanto ver montes de pessoas a passar-nos à frente não deve ser muito fixe. Mesmo que depois as classificações sejam feitas por escalão. Mas no geral também, pessoas mais jovens são mais rápidas que pessoas mais velhas. Porque não dividir as corridas entre <40 e="">41 ou qualquer coisa do género? A questão da motivação seria igual. 40>
Quanto mais penso sobre isto mais a Ladies' Run me parece uma coisa sobejamente condescendente. A começar logo pelo nome. A corrida a sério chama-se Mini-Maratona, porque é a corrida normal, não se chama Gentlemen's Run, é só Mini-Maratona porque, lá está, é a normal. Mas depois há a corrida para as meninas, feita só para elas para não desmotivarem face à grande velocidade e resistência dos seus colegas machos. Bom exemplo de experiência masculina como padrão humano universal e experiência feminina como altamente especializada. Tão especializada que foi criada uma corrida específica onde botar essa experiência altamente especializada. O meu problema com esta especialização é que desencoraja fazer-se coisas todos juntos, desencoraja a presença de mulheres na Mini-Maratona, mesmo mulheres que, se não existisse a Ladies' Run, não teriam problema em competir com homens. Assim, já pensam duas vezes (como eu), como atesta a quase inexistência de mulheres na Mini-Maratona. É um bocado como os ginásios só para mulheres. Eu entendo que seja um espaço onde muitas mulheres se sentem mais à vontade porque não levam com olhares frequentes de cio, mas não concordo com a sua existência. Um ginásio não deve ser encarado como um espaço de homens, é um espaço onde pessoas se vão exercitar. Quanto mais mulheres os frequentarem mais normal se torna, menos olhares de cio serão mandados a médio-longo prazo, mais os ginásios para mulheres se tornarão dispensáveis. Mas enquanto estes existirem, vai sempre parecer que é ali que elas devem estar, não nos ginásios normais. O mesmo com esta corrida especial.
Mas depois, do baixo do meu mezinho e picos de preparação de corrida, olho para as classificações e respetivos tempos gerais do ano passado de ambas as corridas e vejo que na Mini-Maratona nem nos 200 primeiros lugares ficaria (se conseguir o meu tempo ideal) e na Ladies' Run posso sonhar com um lugar nos 50 primeiros. Ceder à condescendência e ficar orgulhosa ou cerrar os dentes e correr como "pessoa" em vez de "mulher"?
Decisões, só decisões.
* Eu neste momento sou uma pessoa que acorda às 2as, 4as e 6as feliz porque é dia de ir correr para o ginásio. Feliz. Eu era uma pessoa que temia bolas, esforço físico e a quem a nota de Educação Física sempre estragou a média. (Nisto sempre fui muito estereotipicamente gaja.) É razão para estar parva.
S.
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