*suspiro gigante*
Já estou um bocado farta de escrever estes posts, verdade seja dita.
Toda a santa cidade que visito me deslumbra os sentidos. Começo a desconfiar que sou uma alma facilmente deslumbrada. Porque ou é isso ou tenho uma pontaria incrível para escolher passeios. Há uma terceira hipótese, que é a Europa ser um continente estupidamente belo e as suas cidades serem capazes de coisas que eu não pensei que eram possíveis, nomeadamente no batimento de records de perfeição.
Há pouco mais de um ano escrevia eu aqui extasiada com a beleza de Amsterdão. Olhando para trás, sóbria, consigo perceber que a cidade merece toda a ode que lhe foi feita na altura, mas eu claramente nunca tinha sido introduzida à cultura do centro da Europa, o seu núcleo geográfico e cultural. Por isso, ver aquelas casas seculares, em fila, muito bem preservadas, aquela água no meio das ruas, tudo tão limpo e organizado, tanta bicicleta, etc, foi o choque mental e sensorial que se compreende. Mas depois fiquei parva com Bayeux, fiquei parva com Estrasburgo, fiquei parva com Edimburgo (se bem que esta última, num tom completamente diferente das anteriores), e começo a pensar que ou eu tenho é a capacidade ingénua de me fascinar facilmente com as coisas, como as crianças, ou ainda tenho é muito mundo para ver. Começa é a meter raiva porque o meu standard de medida é agora Bruxelas e esta beleza toda alheia deixa-me cada vez mais frustrada: tanta cidade lindíssima por aí e tinha que me calhar esta?!
Bom, há que ser honesta: Bruges é holandesa, sem tirar nem pôr. Convenço-me cada vez mais que a Flandres pertencer à Bélgica é um daqueles acidentes históricos estúpidos e francamente artificiais, do mais forçado que há. A zona flamenga tem um caráter tão de País Baixo que mete dó ver a bandeira vermelha, amarela e preta hasteada ao lado da amarela com o leão preto. Começa na língua, que ainda não estou certa que tenha estatuto de língua per se, mas é sim um dialeto holandês (demasiado preguiçosa para ir agora googlar), passando pela planez daquelas terras, pelos moinhos tipicamente holandeses que também se descortinam aqui e ali, pelas inúmeras bicicletas em todo o lado e pelos numerosos canais, acabando na proximidade geográfica à Holanda. Por isso, Bruges, não me podia surpreender inteiramente visto já conhecer Amsterdão.
Bruges foi exatamente assim. Cautelosa para não me apaixonar, apesar de saber ao que ia, e determinada a ser crítica com a cidade ex-líbris turístico. "Hah, estas ruas de calçada são tipo Bayeux", "hah, estes canais são lindíssimos mas Amsterdão também tem", "hah, pracetas bonitas com casas altas de vasinhos nas varandas, isso também Estrasburgo tem." Mas foi a porcaria da visita de barco pelos canais que me calou. As pontes em arco, as bicicletas, as margens prazenteiras, tudo isso Amsterdão tem, de facto. Mas Bruges tem canais com recantos, as paredes das casas mergulham na água, as pessoas abrem a janela e quase que molham os pés, não há passeios a separar. E a quantidade de choupos que aquela cidade tem, senhores!... E heras e flores bonitas a tombar pelas paredes. E as ruas calcetadas misturado com as casas medievais, Bayeux também tem, é certo, mas é só umas quatro os cinco ruas mesmo no centro. Em Bruges, TODA a santa cidade é assim. Uma vez passámos numa rua alcatroada e eu notei a diferença porque aquilo destoava... Portanto, o impossível aconteceu e eu achei uma cidade mais bela do que Amsterdão.
Eu não queria viver ali. É uma cidade calma demais e a perfeição enjoa. Fica para lavar a vista em passeios.
Por falar em passeios, escolhemos mesmo o primeiro dia do meu último ano como "jovem" segundo os transportes belgas, para comprarmos o Go Pass. É um passe de dez viagens, para ser usado entre quaisquer estações belgas, por quantas pessoas quiserem, e onde somos nós que escrevemos a data e o percurso feito. É um desconto extremamente catita que eles dão aos jovens para aproveitarem a sua juventude a viajar por esse país e Europa fora (o Eurostar e os comboios no UK também têm estes descontos para menores de 26). Não percebo bem o critério do número "26" (porque não 25? ou 21?) mas pretendo aproveitar ao máximo o meu último ano de descontos no que aos comboios diz respeito.
Por falar em último ano de descontos, ao contrário de anos anteriores, que ou não me disseram muito ou tive até mini-pânicos nas horas anteriores, estou a gostar muito de ter 25 anos. É uma idade muito a meio-caminho, mas por isso dá-me sensação de equilíbrio, gosto de estar a meio-caminho. Não me vou meter a fazer balanços - as únicas medidas que tenho são para projetar - mas estou satisfeita com a minha vida por isso os 25 não me trouxeram crises de identidade. Correção: não é satisfeita, contente com o rumo, tenho tanta, mas tanta coisa para concretizar que não podia nunca estar satisfeita.
30, bring it on.
S.
adoro como conseguiste meter Game of Thrones num post sobre Bruges, lol
ResponderEliminarCulpa o meu cada vez menor attention span (ou a intensidade com que ando a ver Game of Thrones, como preferires)
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