terça-feira, 28 de janeiro de 2014

As 6 sombras da persuasão e a Dança do Bilião

Andei alguns dias a remoer este post porque eu queria falar sobre isto, convencer mesmo alguém a ir, mas não sabia por onde começar. Por aqui vê-se logo que não tenho curso de marketing, publicidade ou comunicação, no geral. Fez-me falta conhecer as técnicas para convencer alguém. Não tenho jeito, não me é natural, e acabo por nunca ter paciência nem perserverança suficientes, mesmo em debates. O que é bastante infeliz numa pessoa que se intitula feminista, mas bom, cada um faz o que pode. Ainda assim, ocorreram-me várias maneiras de começar:

Persuasão através da instigação da culpa:

Ler e acenar com a cabeça que sim, coitadinhas, é muito fácil. Meter um like num post indignado, também. Partilhar uma notícia sobre o assunto no Facebook, apesar de envolver um nisquinho mais de compromisso, continua a ser 99,9% de conforto, 0,1% de eficácia. Levantar o rabo do sofá/carro/escritório ao fim de uma tarde de pleno inverno, já não é assim tão fácil. Por isso prova o quanto nos indigna, enoja e o quanto queremos ser parte da solução. Ide ao Lisboa V-Day, mulheres desse Portugal. E homens desse Portugal, ide por quem amam. 14 fevereiro. 18h30.

Persuasão através da responsabilidade moral:

É por uma causa nobre. Desejar que o flagelo da violência de género tenha fim. Eu sei que causas nobres há muitas, e nós somos e sentimo-nos pequeninos individualmente. Não temos a capacidade de fazer tudo o que é nobre, ou de lutar por tudo aquilo em que acreditamos. Mas isto afeta muita gente, demasiada gente, por todo o mundo. É pela segurança e bem-estar de potencialmente metade da população humana, pelo menos um terço dessa metade. Como ficar indiferente, se toca a tanta gente? Ide mostrar que não são indiferentes. Ide ao Lisboa V-Day. 14 fevereiro. 18h30.

Persuasão através da chantagem emocional:

É que é um bilião. Um terço de todas as mulheres do mundo. Uma em três. Isto significa que pelo menos uma mulher próxima de vós (mesmo se forem parcos nos sentimentos e anti-sociais como eu, entre irmã, mãe, avó, cara-metade, haverá sempre três. Se forem mulheres, como eu, podem mesmo ser vós) será agredida ou violada durante a vida. Isto está bem assim? Não vos causa horror, abjeção, sentimento de injustiça? Ide mostrar a vossa indignação. Ide ao Lisboa V-Day, mulheres desse Portugal. E homens desse Portugal, ide por quem amam. 14 fevereiro. 18h30.

Persuasão através do testemunho pessoal:

O ano passado, quando a ideia do One Billion Rising surgiu, eu participei na minha primeira manifestação. Bichinho avesso às confusões, aos gritos, aos ajuntamentos e a pessoas a fazerem coisas estranhas, amante das ideias e teorias mas pouco afoito na ação, enfiei-me no meu casaco mais quente e saí para a rua, a temperatura a roçar o zero. Timidamente, encostei-me às colunas da praça a sondar aquela coisa estranha, em que centenas de mulheres e muitos homens cantavam e dançavam pelo fim da violência contra as mulheres no mundo. Acabei a tarde com o nariz a pingar mas com olhos brilhantes e um grande sorriso na cara (os olhos brilhantes podia ser do frio, mas bom, o sorriso não era). Foi a coisa mais sensacional que já fiz fora da minha zona de conforto. O que, tenho noção, não é dizer assiiim tanto. Também tenho a noção que se eu não tivesse lá estado não fazia falta, era só uma entre centenas. Mas se eu não tivesse estado lá, se a rapariga que dançava ao meu lado de sorriso rasgado não tivesse estado lá, se a mãe não tivesse levado a filha de 2/3 anos, se a octagenária que dançou até ao fim não tivesse estado lá, se calhar já começávamos a fazer falta. Pensem que fazem parte de um movimento de milhões, que a esse momento hão-de estar todos a dançar pelo mesmo objetivo. Tem que se começar por algum lado, não é? Ide ao Lisboa V-Day. 14 fevereiro. 18h30.

Persuasão através da perspetiva do divertimento:

É uma flash-mob, gente. Tem coreografia e não há muitas coisas tão fixes de se fazer a 500 como movimentos sincronizados. Ninguém vai saber de cor, haverá tempo para ir aprendendo. É libertador, primitivo mas profundamente libertador, e estupidamente divertido balançar o corpo ao ritmo de uma música sem outro propósito que não a diversão. Sem o propósito de agradar, de atrair, de convencer. Só aquele, de estar ali presente, com aquelas pessoas todas que defendem a mesma coisa. Ide ao Lisboa V-Day. 14 fevereiro. 18h30.

Persuasão através do ataque ao cinismo:

"Eh, realmente o mundo há-de mudar assim, com danças. É a dançar nos vossos países riquinhos de primeiro mundo que se acaba com a violência sobre as mulheres no mundo, realmente." Duas respostas a isto, uma curta e outra longa:

Curta: Bardamerda. Cada um faz o que pode. Ao menos importo-me o suficiente para sair à rua por isto. 

Longa: Isto é um bocado como a história do Dia do Pai, Dia da Mãe, Dia da Mulher, não é? É quando se quiser, é todos os dias, blá blá blá, depois nunca é verdadeiramente. Pelo menos arranjou-se uma maneira, um dia, um evento, um ajuntamento, que faz com que as pessoas reflitam na coisa, se importem, e potencialmente que vão mudando a sua maneira de pensar sobre aquilo. Senão, bom, pelo menos um dia no ano lembrar-se-ão. Um em 365 já não é mau. Em relação à questão da dança, a ideia surgiu através da escritora Eve Ensler ("Monólogos da Vagina") depois de uma visita à República Democrática do Congo e de ter visto a forma como muitas mulheres tentavam curar a dor psicológica e emocional da violência. Há qualquer coisa de primordial na música, quase mágica, todos sabemos. Embalamos os bebés para os acalmar, não é? Cantamo-lhes canções de embalar. Dançamos como diversão. Não está assim tão deslocado o ato da intenção.

Vão, a sério. Mostrem que se importam, e divirtam-se pelo meio. Eu cá estarei em Bruxelas, a dançar também.

Lisboa V-Day AQUI.     






S.

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