quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Motins, viagens-sonho e leões

Acho que o meu corpo - e, desta vez, o meu espírito por arrasto - ficou traumatizado com os 15k de domingo. Não foi assim tão mau, acho eu, mas se calhar só afirmando em retrospetiva. Isto porque eu estive a tentar convencer-me, ao corpo e ao espírito, (já somos três, não sei quem é este terceiro, talvez a consciência), até hoje, que tínhamos que nos fazer à estrada novamente. Foi a semana toda nisto:




A consciência lá acabou por ganhar, depois de ter mandado um murro na mesa e exclamado: "Mas qu'ésta merda, afinal quem é que manda aqui?! E tu 'tás-te a preparar para uma meia-maratona ou não, minha menina?? Olha que já só faltam 6 semanas, aquilo vai ser para acabar ou para fazer figura triste e desistir? Calça-me esses ténis e vam'embora, vá!"

Corri pouco mais que uns míseros 6 km porque percebi que as minhas pernas não estavam para ali viradas.



Ainda tiveram o desplante de me mandar este sorriso cínico do "eu bem te avisei". Estúpidas.

Sou agora uma pessoa muito infeliz depois de ter constatado que são as minhas pernas a parte fraca disto tudo. Muito infeliz. Às vezes correm três quilómetros sempre a chorar, canelas a parecer que se abrem, enquanto pulmões e coração olham atónitos, para aquela mariquice toda, e confusos pela dificuldade que estão a presenciar mas que não sentem. Quem é que percebe que às vezes corram 15 km e outras mal 6 aguentem? Bipolaridade física, ou caraças.

Ora, o que acontece então é que tenho que esperar impacientemente que o esforço acumulado se vá embora das patas antes de voltar a fazer-me à estrada, mas sem saber exatamente quanto tempo posso esperar sem que comece a perder resistência. É um equilíbrio tão delicado que me põe nervosa, às portas da prova dos 21.

Anseio que passe a Meia-Maratona e a Corrida dos Sinos para poder voltar a correr sem pressões durante os treinos de quilómetros a conquistar. Apetece-me voltar a correr na minha zona de conforto, durante um tempinho, para depois me começar a concentrar na velocidade em vez de na distância. Porque a chatice com as distâncias é a longa duração do passeio e o auto-entretermo-nos enquanto vamos em esforço. Costuma ser esse o papel da música mas começo a ficar farta da minha playlist e um álbum de Arctic Monkeys já não chega para os passeios mais longos. E estava a começar a estragar as músicas por associá-las ao esforço, muito ao jeito do cãozinho do Pavlov. De maneiras que hoje parti sem phones nos ouvidos, pela primeira vez. Não me aborreci. Mas foi pouco mais de meia-hora...

Um dia destes vou a Waterloo. É a minha viagem-corrida de sonho. Fica a 14 km da minha casa e desde que cheguei à Bélgica que lá quero ir, mesmo, mesmo muito. Palmilhar o caminho a patas deve elevar a experiência ao quadrado. Terei que me embrenhar na Fôret de Soignes para lá chegar, já que a estrada até lá não tem sempre passeio (sim, já andei a stalkar o caminho no Street View. À séria. É o quanto quero ir lá). Nunca corri pelo meio de florestas daí que estes 14 km ganhem outra dimensão dantesca. A parte do vir para cá é que é pior... Se me inspirar no Napoleão não consigo. Haha.

Vou lá dar um beijinho ao leão e volto.


Hahaha, ou então não. Escalar uma rampa daquelas após arrastar-me durante hora e meia?? Não me parece. Mando cá de baixo.



S.

3 comentários:

  1. Ahhh (suspiro nostálgico), correr sem pressões. Lembro-me bem do que isso era. Mas depois uma pessoa sente-se acomodada por não ter novas metas. E essas corridas para ir a um sítio especial são as melhores :)

    Uma coisa importante: há estudos que indicam que no período pré-mestrual as mulheres têm mais tendência à inflamação e às lesões. Comigo é 100% verdade. Nesses dias, temos de dar um desconto e pensar que logo corremos mais noutro dia.

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  2. É, daqui a uns meses estou-me a queixar que não tenho objetivos porque já passaram as corridas. O ser humano é um bicho lixado, só quer o que não tem.

    Essa das inflamações no período pré-menstrual é uma notícia muito desanimadora. Eu já planeio a coisa de forma a contornar os piores dias do mês, se os "pré piores dias do mês" também são maus não sobra muito... :/

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  3. Durante esses dias gloriosos da condição feminina podemos correr à vontade, é só uma questão de estar bem "equipada" ;)

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