Hoje é o dia de ressaca das festividades. Ressaca que nada tem que ver com álcool mas sim com o fim de dois dias de festa antecipados. Todas as festas têm o seu momento de ressaca, que normalmente envolvem limpar e arrumar todos os vestígios da mesma. De maneiras que fazer um feriado no dia a seguir ao Natal é inteligente.
O Boxing Day é também ao que parece um dia de saldos e compras em grande. Faz sentido: as lojas querem aproveitar para se livrarem do que não venderam para o Natal. Nunca vi tanta gente na High Street. É assustador. Nem nos dias anteriores ao Natal, que infelizmente tive de sair e misturar-me na confusão (prendas e compras de última hora...), havia tanta gente na rua.
Anyway, e como prometido, vou postar as fotos das iguarias que fiz para esta época festiva. Não foram muitas nem tantas como tinha pensado, mas contando que erámos só dois a desfrutá-las, ainda bem :).
A primeira coisa que fiz foi a gelatina com leite condensado, uma sobremesa muito fácil de fazer e muito boa. Como tinha em casa carradas de caixas de gelatina, foi uma boa ideia para me livrar delas ao mesmo tempo que fazia uma sobremesa que apesar de não ser especialmente natalícia é sempre bem-vinda.
Os pacotes de gelatina eram muitos mas não eram variados, como dá para ver. Só tutti-frutti e ananás, o que fez uma sobremesa normalmente colorida apenas verde, lol. Não usei leite condensado mas sim leite evaporado (don't ask...). Claro que tive de pôr açucar, uma vez que o leite evaporado sabe a leite só, ao contrário do condensado. Ficou boa mesmo assim :).
Enquanto a gelatina ía ao frigorífico para solidificar fui fazendo o tão esperado eggnog, de longe a iguaria mais antecipada por mim este Natal. Leva uma quantidade enorme de ingredientes, estranho numa bebida, já que enquanto misturava as gemas e o leite mais as natas me ía interrogando 'Mas isto bebe-se?...'. O resultado foi uma bebida extremamente doce, parecido com pudim uma vez que leva baunilha, mas desenjoativa graças à canela e à noz moscada. Leva álcool, supostamente rum, mas preferi comprar um licor parecido com Baileys, porque me pareceu mais cremoso. Um erro talvez, porque a bebida em si já é bastante cremosa, não precisava de um lícor adicional. Muito bom mesmo assim.
Depois foram as rabanadas. Ora, estas deram-me um bocado de dor de cabeça. Não correram como eu queria. A explicação está no pão de forma cortado às fatias fininhas que comprei. Nada adequado a molhar no leite e no ovo; uma vez ensopadas as fatias partiam-se antes de chegar à frigideira. Outra razão para o fracasso é a minha inabilidade em lidar com frigideiras e óleo. É coisa que detesto mesmo. Tenho pânico que o óleo espirre para fora se estiver demasiado quente, o que resulta em nunca encontrar a temperatura ideal para fritar coisas. Tal ficou comprovado com as fatias douradas: algumas ficaram pouco douradas, outras demasiado escuras :/. Devia tê-las deixado mais tempo no papel absorvente também, estavam demasiado oleosas. Mas comi algumas, o que prova ou a minha grande fome na altura ou o meu grande sacrifício para não estragar comida :D.
Os crackers também não faltaram! Uma tradição um bocado estranha mas divertida. É suposto puxar uma pessoa de cada lado do cracker, aquilo depois dá um estalo e sai de lá uma prenda. Os nossos trouxeram cada um uma coroa de papel, mais um mini escorpião e um mini dinossauro de borracha. E um papel com uma mini piada/trocadilho. Tudo mini, claro está, os crackers são esses pacotes pequenos ao pé da fruta, não caberiam grandes presentes lá dentro!
A refeição da ceia de Natal teve de ser bacalhau claro está. Emigrante que é emigrante faz bacalhau no Natal, para lembrar as origens. Ora, o que se passa com os ingleses é que desconhecem completamente que o bacalhau como deve ser é salgado e seco. Ou seja, há muito bacalhau nos supermercados mas é fresco, como qualquer outro peixe (e sabe a qualquer outro peixe!). O que eu fiz foi descongelá-lo um dia antes e espalhar montes de sal em cima para que quando o cozinhasse ficasse parecido com o verdadeiro bacalhau. Resultou :). Cozi o bacalhau, as batatas e as couves (que surpreendentemente apareceram no Asda há uma semana, mesmo a tempo do Natal :) ), e de seguida levei ao forno, regado com azeite e com pão ralado por cima. Magnifique! Simples mas diferente e mais elaborado (e delicioso) que o tradicional prato de bacalhau e batatas cozidas.
No dia seguinte fiz o tradicional perú para o almoço. Claro que não comprei um perú enorme dos que cá há (somos só 2....) e para minha grande frustração também não encontrei perna de perú. Decidi-me por um pedaço do peito, já preparado para ir ao forno que me pareceu suficiente para os dois e suculento. Não me enganei. Apesar dos avisos maternos que o peito é sempre mais rijo que a perna, este pedaço de carne saiu extraordinariamente suculento e nada seco. Infelizmente só quando a barriga estava a digerir o dito cujo é que me lembrei que tinha faltado a foto ao bicho :(. Pele tostadinha e carne macia regada com um molho de margarina, limão e alho, fica a imagem mental :).
E pronto, assim me entreti nestes dois dias festivos. Um esforço para não esquecer a tradição, porque é destas pequenas coisas que a vida e a felicidade se constrói, e porque não pude estar com o resto da família o que, claro, foi estranho e traduziu-se num Natal mais sossegado e silencioso. Mas o Skype faz maravilhas e pudemos matar saudades enquanto saltávamos de casa em casa e falávamos com as respectivas famílias. Tradição, amor e calor humano não faltaram mesmo assim, nem o entusiasmo na abertura das prendas, e por tudo isto, orgulho-me muito :).
S.